
Foi em Setembro do já distante ano de 2001 que a viagem começou. Foi um desafio que lancei a mim mesmo: voltar a leccionar a alunos do 3º ciclo (nível de ensino do qual me encontrava afastado há já vários anos) e acompanhá-los durante (julgava eu) três anos, de forma a poder realizar um trabalho com “princípio, meio e fim”, em que os anos lectivos não surgissem iguais uns aos outros, mas antes com uma lógica sequencial, em que a continuidade e a progressão fossem a tónica dominante. Enfim, um desafio que alguém, então com 14 anos de serviço, necessitava com alguma urgência, para quebrar a rotina que ameaçava instalar-se e para colocar as coisas no seu devido lugar: os alunos e a sua educação no topo das minhas preocupações diárias. Foi uma aposta claramente ganha, cujo resultado ultrapassou, em absoluto, as minhas expectativas. Chegados ao final do 3º ciclo (meta inicial deste meu desafio) preparei-me técnica e psicologicamente para iniciar um novo ciclo, com outros alunos e noutro nível de ensino, não por estar insatisfeito com os alunos que tinha (bem pelo contrário), mas por entender que seria positivo, quer para mim quer para aqueles que me “aturavam” há três anos, efectuar uma “troca”, uma mudança de professor e, consequentemente, de métodos de ensino e de práticas de aprendizagem, que evitassem o desgaste natural que o suceder dos anos provoca. Eis, porém, que sou surpreendido por uma quase imposição de um conjunto de alunos que insistiam em que o “namoro” não terminasse ali, mas se prolongasse, sabia-se lá por quanto mais tempo!! Que decisão tomar? Fazer “orelhas moucas” a um apelo que mexia tanto com as minhas emoções e insistir “cegamente” naquilo que era uma convicção pessoal, ou abdicar disso e ceder à vontade de um conjunto de adolescentes que, ingénua e inconscientemente, insistiam em prosseguir uma ligação pedagógica (mas acima de tudo afectiva) que até então tinha resultado, mas da qual não havia a garantia de que resultasse de igual modo nos três anos seguintes? Acabou por imperar o coração, que apontou para o caminho da continuidade, e ainda bem que assim foi. Nestes vinte anos de carreira que já tenho (completados em Outubro passado) tive algumas turmas em que ao fim de poucas aulas leccionadas (e perdoem-me a sinceridade!) já estava ansioso para que o ano terminasse o mais rápido possível, a fim de os "ver pelas costas". Houve outras turmas em que foi com alguma (nalguns casos muita) dificuldade que as tive que deixar no final de um ano de trabalho que deixou em todos enormes saudades. E houve uma (e acho que é o maior elogio que lhe poderia fazer) que fez com que seis longos anos de partilha de saberes e de afectos, antes parecessem seis fugazes meses, devorados por um tempo que, desrespeitosamente, nunca parou para descansar. Para a história aqui ficam os nomes dos “oito magníficos” que, do 7º ao 12º ano, conseguiram o feito heróico (e estóico!) de me aturar nos dias bons e maus, alegres e tristes (as 2ªs feiras após as derrotas do Sporting eram terríveis!!), enérgicos e frouxos, eufóricos e deprimidos, solarengos e chuvosos: Cristiano Jesus, Inês Tojeira, João César, Jocelyn Lochon, Michael Santos, Patrícia Santos, Pedro Soares e Susana Santos. Seria injusto não referir que, a estes oito alunos, vieram juntar-se, ao longo destes anos, outros quatro que se integraram plenamente e que, por direito próprio, fazem hoje parte desta família que é o 12ºB e que são eles o Alfredo Almeida, a Marina Martinho, o Ricardo Modesto e a Sara Cardoso. Beijinhos (para elas) e abraços (para eles).